Letras

sábado, 8 de novembro de 2014

Solidariedade

Poema de Mário Dionísio, publicado em Poemas (1936-38)
Música de João Caldas.


Vamos, dêem as mãos.

Porquê esse ar de eterna desconfiança?
esse medo? essa raiva?
Porquê essa imensa barreira
entre o Eu e o Nós na natural conjugação do verbo ser?

Vamos, dêem as mãos.

Para quê esses bons-dias, boas-noites,
se é um grunhido apenas e não uma saudação?
Para quê esse sorriso
se é um simples contrair da pele e nada mais?

Vamos, dêem as mãos.

Já que a nossa amargura é a mesma amargura
Já que a miséria para nós tem as mesmas sete letras,
Já que o sangrar de nossos corpos é o vergão da mesma chicotada,
fiquemos juntos,
sejamos juntos.
Porquê esse ar de eterna desconfiança?
esse medo? essa raiva?

Vamos, dêem as mãos.